Alicia Vikander é Lara Croft: Um Ícone Feminino [EXCLUSIVO CMBR]



No ano em que a cerimônia do Oscar “foi das mulheres” (uma cerimônia recheada de representatividade e protestos), um novo filme da icônica personagem Lara Croft sai do papel. Com a escolha da atriz vieram as críticas ácidas de pessoas que parecem ter ficado presas no tempo.

Após o anúncio de que Alicia Vikander interpretaria Lara Croft nos cinemas, a atriz sofreu diversos ataques por ser considerada “sem corpo” para interpretar Croft. Num contexto em que o que mais vem sendo difundido é a desconstrução de estereótipos, nos choca o fato de um corpo “perfeito” ainda ser considerado, para tantos fãs, mais importante que o conteúdo que uma atriz tem a oferecer – mesmo quando a atriz carrega um incrível histórico de 45 nomeações e 19 prêmios por sua atuação, sendo um deles o Oscar.

A sensação que fica é que a comunidade geek se compraz em reclamar. Em tempos da Era “clássica” a personagem tinha seu físico extremamente explorado, fazendo com que Lara se tornasse um Sex Symbol – afinal, era isso que vendia: peitos e armas – e ainda que a demanda por personagens femininas independentes se resumisse a isso, comentários como “só faz sucesso porque é gostosa” eram recorrentes.

Os desenvolvedores criaram a Lara Clássica com padrões apelativos para chamar a atenção do público gamer da época – constituído por homens, em sua maioria – para que, assim, uma chance fosse dada a uma novidade: uma mulher protagonizando um jogo de tiros. Mas os tempos mudaram, guests. Sim. Vinte anos se passaram desde a criação de Lara Croft e, nesse tempo, as mulheres expandiram sua voz a diversos campos da vida social. Dois desses foram o campo dos jogos e dos filmes. Não há mais uma necessidade de submeter personagens femininas a padrões inalcançáveis ou apelativos de beleza para que elas sejam ouvidas, para que o público dê uma chance a elas – apesar de ainda existir uma boa parcela de idiotas que não aceita isso. Uma mulher não precisa ter um corpo “cheio de curvas” para ser reconhecida. Uma mulher não precisa ser invicta para ser incrível. Uma mulher não precisa ser destemida a todo tempo para ser uma heroína. Uma mulher não precisa ser perfeita para ser um ser humano.

O que acontece é que uma boa parte dos consumidores está mais preocupado com o conteúdo psicológico e emotivo de uma personagem que com o tamanho dos seus seios. Mas, infelizmente, uma outra parte ainda insiste em julgar atrizes – ou personagens criadas em programas – pelo seu corpo. Essa segunda parcela é autora de comentários vergonhosos, como “essa atriz é sem sal demais para esse papel”*, “a Square Enix tirou a única coisa de boa da Lara: o fato de ela ser gostosa”**, “essa Lara não tem corpo”***, “Alicia Vikander é muito magra e feia. Esse filme vai ser um lixo”****.





Vamos responder um de cada vez, guests? Vamos!

*) Muito sal causa hipertensão.

**) Se você acha que a única coisa que uma personagem feminina tem de bom é seu corpo, você fará um favor à comunidade em deixar de acompanhar a trajetória dessa mulher. Você não é fã. É apenas mais um imbecil que não percebeu que estamos a vinte anos de distância da criação da Lara, quando a hiperssexualização de uma mulher era a forma mais garantida de se dar voz a essa mulher. Você não gosta da Lara, só quer ver peitos.

***) Essa afirmação é tão engraçada... É como falar que alguém não tem um “corpo de praia”. Não necessita muita elaboração de resposta por ser estúpida demais. Eu também poderia dizer que você não tem cérebro, mas eu também estaria errada.

****) Chegamos à questão central. Essa última é, basicamente, o motivo desta nota: o fato da mulher EM PLENO 2018 ser reduzida a aparência do seu corpo e julgada se não estiver dentro dos padrões quase ou definitivamente inalcançáveis de beleza. A sociedade mudou e muda a cada dia. As mulheres chegaram ao topo e estão cansadas de serem tratadas como se seu eu fosse resumido em seus corpos.

Lara Croft não precisa disso para ser reconhecida por quem é, para ser incrível.

Mulher, você não precisa disso para ser reconhecida por quem é, para ser incrível!

A nova apresentação da Lara respeita, justamente, essa saturação das mulheres quanto a forma que elas vinham sendo representadas. Muito espanta a equipe do Croft Manor Brasil que esse grande ícone feminino ainda receba tantas declarações que alimentam uma lógica machista. E é ainda mais preocupante quando tais declarações saem da boca de “fãs”. Finalmente, o fato dos seus desenvolvedores terem usado seu corpo para que ela ganhasse voz nos primórdios não torna a Lara em sua Era clássica menos ícone feminino. E, visto que a Lara, não apenas conquistou seu espaço, mas também abriu caminho para novas personagens, tornando esse tipo de apelação dispensável, os padrões físicos e psicológicos da Lara Croft em 2018 não a tornam menos Lara. Respeite o passado, reconheça o presente e abrace o futuro.

Antes de julgar uma mulher pelo seu corpo que você diz “sem sal” ou até “gordo demais”, lembre-se: Você não está comprando um pedaço de bife, amigo! Você está consumindo a história de um ser humano. Você está consumindo a história de uma mulher. Se porte como tal.






P.S: Se esse texto não causou nenhum tipo de mudança no seu pensamento e você continuará repetindo coisas vergonhosas por aí, lembre-se: Alicia Vikander é Lara Croft e estará nas telas dos cinemas do mundo inteiro a partir do dia 15 de março – o mês das mulheres. Enquanto aquela mulher segue representando as mulheres através de uma carreira bem-sucedida e com um estilo de vida nada “sem sal”, você pode continuar propagando seu pensamento arcaico e ácido a respeito daquilo que você pensa que entende. Mas – sinto lhe dizer – um dia ninguém mais escutará você e a apelação para sensualidade não vai te ajudar. São outros tempos, guest. =)





Por LobsterCroft e VinyCalheiros

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